Líderes sem ética

O desporto, em particular o futebol, joga-se mais fora dos relvados que dentro deles. A corrupção e o tráfico de influências não têm cor. Nem interessa se têm. Quando os homens que ocupam os cargos de gestão são suspeitos de corrupção, pode-se ter a certeza de que a própria atividade tem falta de moralidade e que os seus agentes não têm uma vivência ética. Não devemos pactuar com quem não sabe estar no desporto, ou desculpabilizar essas pessoas, mesmo que sejam do nosso clube. Aliás, devíamos mesmo ser mais exigentes com os que são do nosso clube, pois temos responsabilidades quando os elegemos ou os mantemos nesses cargos.
No futebol «basta» ganhar uns títulos e declararem-se honrados, inocentes, homens de família ou relembrar as histórias do passado de outros para que valha, quase, tudo. Os grandes responsáveis deste caos em que vive o futebol são as entidades que mandam. Ao sistema judicial exige-se que resolva o que tantos tentam esconder debaixo do tapete. A Justiça enquanto pilar da democracia enfrenta os maiores desafios e em número crescente. É lugar-comum nos dias de hoje a expressão: «confio na Justiça».

A pergunta deve ser se confia no sistema judicial. E porquê ?
O futebol é a atividade mais mediática e escrutinada. Muito por isso é normal que seja a que alimenta as conversas do quotidiano e um produto apetecível para a comunicação social. Esta explora os casos negativos até à exaustão. O tratamento que inúmeros meios de comunicação social dão ao desporto fomenta a guerrilha, o ódio e premeia o «chico espertismo».
As redes sociais estão lotadas de discursos de ódio e intolerância proferidos por muitos que até são agentes desportivos e ocupam cargos de responsabilidade na sociedade. Esses agentes deviam dar mostras de bom senso pelo conhecimento que têm e pela formação desportiva que deviam ter. Os jogadores e treinadores deixaram de ser idolatrados e são os dirigentes que se pavoneiam pelos jornais e televisões.
Esta onda de suspeições, infundadas ou a demonstrar, cria um ambiente detestável e arruína a credibilidade das instituições em geral e do desporto em particular. Alterar mentalidades leva tempo e esse trabalho já devia estar a ser feito. Já devíamos estar a criar adeptos exigentes e com o mínimo de … bom gosto! A falta de ética no desporto é uma prática que corrói e vai acabar por destruí-lo no que de mais importante tem para oferecer: competição, amizade e cooperação.
Não se admirem que a culpa de tudo isto ainda seja atribuída a D. Afonso Henriques que tem a fama de ter batido na mãe!

Vitor Santos

Autor do livro : “Educar o sonho: ética e envolvimento parental na prática desportiva”
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