Mangualde é a terra onde o destino e a sorte me fizeram nascer, no Hospital Velho, muitos anos se passaram, depois veio o Hospital Novo, este já se foi há muito e hoje, o Velho sou eu.
Mangualde, neste meu tempo de vida, abriu as asas, levantou voo e voou, voou cada vez mais alto, deu vida à imaginação e aos sonhos dos seus autarcas, gestores e munícipes, e é hoje a cidade próspera e maravilhosa que a todos nos honra, nos acarinha, nos garante a vida, nos alegra, nos protege, nos educa os filhos, nos emprega, nos fala ao coração e à alma de Mangualdenses.
Mangualde é uma Cidade hoje cheia de luz e cor, de jardins, flores, largos, fontenários, áreas verdes por todo o lado, requalificadas, bem estruturadas e urbanizadas, uma cidade dotada de todos os necessários equipamentos urbanos e outros, que fazem do viver em Mangualde um acto de amor à vida e à cidade.
Sempre que venho à cidade, a cada passo que dou, embrulhado nesta minha já vetusta idade, que o passar do tempo me impôs contra vontade, em abono da verdade se diga, ocorrem-me memórias do Mangualde antigo, coisas avulsas e ao acaso, coisas minhas … e vejo-me, três anitos feitos, descalço, inocente, a correr largo Doutor Couto (hoje do município) fora, evadido clandestinamente de casa, ali mesmo no centro, por cima da já não existente mercearia do Snr Barbosa, em direcção ao ex Bazar do Snr Amândio Loureiro, perto dos antigos Bombeiros, para ir ver, entre muitos outros brinquedos, um cavalo de madeira, ali á venda, perdição minha; ficava-me nele o olhar, entre gritos de eh! Cavalo!, segundo dizia a minha mãe, que logo chegava aflita, de prontos tabefes e regresso desiludido e imediato a casa.
Das janelas daquela casa, donde saí aos seis anos para a Quinta de S. Cosmado, por entre vasos de fartas e delicadas avencas, pasmava-me criança que era, vezes sem conta, a observar a casa grande e Senhorial dos Conceições, hoje já ausente, então mesmo ali em frente do lado de lá da estrada, e o simpático jardim, pequenino, bem tratado, de sebes de bucho, canteiros em flor, caminhos em geometrias arenosas, e o Coreto, mesmo no centro do Jardim, sempre verde escuro, encimado por uma cobertura metálica, com um pináculo bonito, metálico e verde também, sobre uma base granítica; tinha uma porta pequena, cujo propósito nunca descobri, apenas suspeitei… por vezes, havia bandas de música a tocarem… era então este, o único jardim de Mangualde.
Hoje Mangualde é uma cidade jardim; os largos que foram até 74, espaços de terras batidas, arborizados com velhos e frondosos plátanos e figueiras da Índia, como eram os largos das Carvalhas, Escolas, Colégio e Complexo, Dr. Couto, Município, o largo que ia da casa dos Conceições ao Rossio, etc… estão hoje requalificados, empedrados e de árvores renovadas, ou ajardinados, relvados, alindados, desenhados com saber, arte, beleza e bom gosto urbano.
O centro da cidade começa numa rotunda, com uma espectacular escultura em granito, onde entroncam quatro estradas: –
….uma, vinda de Nelas, passando pela laboriosa e cada vez mais pujante zona industrial de Mangualde, onde se localizam muitas e diversas actividades industriais, que são a riqueza principal do Concelho, entre as quais avulta a fábrica da “PSA /Peugeot/Citroen”, passa pela já extinta 2ª maior Fábrica de carroçarias de camiões em Portugal, a do Snr João Tavares, depois a estalagem, a quinta e a elegantíssima casa do Snr Adelino Amaral, na Cruz da Mata, hoje vazias de vida e de gentes e ainda, pela outrora incansável, hoje morta, serração de madeiras do Snr Duarte Carvalho, o depósito da água, uma activa área de serviços do saudoso Snr Fernando Beja….
…..e, de repente, esta estrada desagua no imenso largo das Carvalhas, que se desvia, ininterrupto, para o Largo dos Colégios, Igreja das Almas, Complexo Paroquial, e logo choca, mesmo de frente, com a mais bela, imponente, aristocrática, altiva e rica obra prima da arquitectura solarenga de Portugal, o Palácio dos Condes, passa depois ao lado dos saudosos Colégios de S. José e Santa Maria, pelo anterior quartel dos Bombeiros Voluntários, indo sempre à esquerda do impressivo muro da Mata e Quinta dos Condes e, finalmente, chega à rotunda, onde se encontra com…
…. outra estrada, de largo traçado, vinda de Cubos e da estação da CP de Mangualde, atravessando esta uma das áreas residenciais mais modernas e simpáticas de Mangualde e, ali se entronca ainda, com…
… uma terceira estrada que vem de Penalva do Castelo, passa por baixo da IP5, ao lado do moderno restaurante Cascata de Pedra, novo quartel dos Bombeiros, passa pelo prestigiado restaurante Valério, depois a Camisaria, e segue-se a antiga clínica do inesquecível Dr. Dino Furtado, figura quase mítica, única e inestimável de ilustríssimo clínico e João Semana que foi e que nunca pedia contas, nunca se negava, noite ou dia, em fazer visitas ao domicilio aos simples e humildes, e a quem a saúde dos Mangualdenses muito ficou a dever, e ainda o monumental Cine Teatro de Mangualde, encanto de jovens e adultos de muitas gerações de Azuraras gentes, passa pelo antigo Grémio da Lavoura e chega à rotunda …
… depois, a quarta estrada projecta o Centro da cidade até lá para Nascente, passando por uma segunda rotunda de floridos verdes e jardins, logo a seguir, de grande perímetro, mesmo frente ao largo do Município, e continua até uma terceira e muito ampla rotunda, lá bem longe ao cimo no Rossio, onde se situava noutros tempos a taberna do Saldanha, que vendia sal por grosso e avulso, cal e sulfatos para as vinhas, carburetos para os gasómetros e, onde havia um grande terreiro, local de instalação de carroceis, carrinhos, matraquilhos, circos, etc… quando estes desciam à vila de então, pela feira dos Santos…. Depois, esta estrada continuava Rossio adentro, e passava pela padaria dos Midões e pela maior e mais rica Oficina de Mecânica que eu conheci na minha vida, a do Snr Venâncio, onde trabalhou o meu pai, com um imenso lagar de azeite, finadas hoje nos tempos e a estrada continuava pelo Modorno, campo do desportivo, em direcção à Nossa Snra do Castelo, depois Colónias e era então a estrada nacional para Espanha por Vilar Formoso….
… todo esse imenso jardim, muito bem desenhado e cuidado, que é hoje o longo centro urbano da cidade de Mangualde, é um encanto feito de árvores, relvados, espaços verdes e de mil e uma flores, aromas, cores, sebes… com o largo do Município, logo ali no seu início à direita, onde vive ainda a árvore soberba, que presumo secular, cuja chão e sombra foram mercado municipal de legumes e hortaliças, frutas, ovos, galinhas, coelhos, etc… por muitos e bons anos do século passado, e onde ainda hoje, inevitavelmente, quando ali passo, vejo ainda ali e ao vivo na minha imaginação, a mais enérgica, sempre presente e conhecida das vendedeiras, a “Tia Lucília”, e a sua banca de frutas e vegetais; um pouco lá ao fundo, avulta a inconfundível beleza, aristocrática e senhorial, do nobre e histórico edifício da Câmara Municipal.. que anexava ao lado, noutros tempos, a Esquadra da PSP (era ainda assim quando fui Comandante da PSP distrital de Viseu, década de 80).
… mas sinto a falta, neste largo, do incontornável quiosque que ali havia, de formato circular, encimado por uma cobertura tradicional cónica em pináculo, dos meus tempos meninos e moço; era uma tabacaria, vendia jornais, cromos de futebol e outros, encantos meus, tinha rifas de chocolates da Regina, doçarias, lápis, balões, cadernos escolares, etc… o dono era o Tóino… um dia foi-se o dono e o quiosque… tendo sido seu primeiro proprietário o Snr Antoninho Cabral, mais tarde dono da Pastelaria, junto ao Bazar do Snr Amândio Loureiro, que veio a ser a Pastelaria Víctor.
Em torno desta primeira rotunda, que ainda o não era, situavam-se o maior e mais rico armazém de lanifícios de Mangualde, o do Snr Adelino Amaral, actividade económica por excelência da vila de então, que empregava centenas largas de mangualdenses e cujo edifício ainda lá está, a ourivesaria Pereirinha e, do outro lado na esquina, as mercearias dos Laires, de portadas azuis, e em frente a oficina do Mário das bicicletas, uma papelaria antiga e outros estabelecimentos, como o do Snr Celestino, etc.
Era aqui e é, ainda hoje, que batia e bate o poderoso coração da cidade, aqui pulsava e pulsa a vida do Concelho, na e em torno da Câmara Municipal e dos seus mais que diligentes e competentíssimos autarcas e gestores, com o eterno Café Melro ali mesmo ao lado, de pedra e cal através dos tempos; tudo passa, o Café Melro e o edifício Municipal ficam, separados apenas por uma lindíssima igreja e uma estrada lateral..
…recordo as bombas de gasolina do Snr Barbosa, ali mesmo, que já se foram, a praça de táxis que ainda está, os estabelecimentos de ferragens do Chico Alves, Chico Ramos, o Café Ideal, onde pela primeira vez vi televisão, na esplanada, a volta a Portugal em bicicleta, ganha pelo Alves Barbosa, inesquecível para a minha memória menina, tudo ido na voragem dos tempos …
….e, do outro lado da estrada, junto do antigo jardim, havia um monumental e lindíssimo fontanário, hoje noutra parte da cidade, e as hoje desaparecidas casas de banho públicas subterrâneas, o estacionamento improvisado das camionetas de carreira, hoje transferido para um terminal de camionagem muito funcional, o moderníssimo Palácio da Justiça, a impressiva casa Senhorial dos Conceições…
…. e depois, até lá em cima ao Rossio, um correr sem fim de comércios vários, a famosa casa de Modas dos Loureiros, a alfaiataria Matos, a mercearia dos irmãos Ribeiros, o Gilinho e o seu sortido de mil e uma miudezas, a farmácia Dr. Lúcio, etc.. e depois, chegávamos ao topo deste centro da cidade, ontem e hoje, sempre com mais e mais comércios e outras actividades económicas, num inesgotável e sem fim de modos de vida, exibindo toda a inesgotável imaginação, energia, capacidade, força de vida e de trabalho dos mangualdenses, gente de antes quebrar que desfalecer.
No largo das escolas, hoje requalificado, encontramos os belos e sólidos edifícios das Escolas, onde fiz a 4ª classe, hoje recuperados e dedicados a outras actividades não menos nobres, substituídos que foram por modernos complexos escolares de todos os níveis de ensino, situados noutra área da cidade, de que os mangualdenses muito justamente beneficiam e muito se orgulham.
A encimar a cidade de hoje, tal como o fazia na Vila antiga, visível de longes muito longes, lá bem no topo do Monte do seu nome, lá está, permanente, atenta, vigilante, padroeira, amiga, e sempre protectora dos Mangualdenses e da cidade, a Ermida e a Santa, a Nossa Senhora do Castelo.
A Ermida é o ex Libris, por excelência, de Mangualde; não há Mangualde sem a Nossa Senhora do Castelo e nem vice-versa; isto era verdade ontem, hoje e amanhã; a cidade estende-se num doce e quieto remanso, ajoelhada aos pés do Monte, como que em adoração silenciosa e recolhida à Santa; bairros modernos vêm até ali ao sopé do monte; a popular e extraordinária praia artificial de Mangualde, encanto dos mangualdenses e não só, está ali também na base do monte e a mais notável das suas avenidas, leva-nos do centro da cidade, directamente, lá ao alto, ao interior da Ermida, e coloca-nos face a face com a Santa, passando pela monumental escadaria de mil e um degraus de granito e muitas capelinhas monte acima…
Gostei muito da Vila que foi Mangualde, no seu tempo enquanto Vila, em que era menos tudo do que hoje é, uma Cidade vibrante de vida e modernidade, mas cada tempo tem o seu tempo, e Mangualde adaptou-se com rapidez, inteligência, trabalho e flexibilidade às mais diversas circunstâncias dos novos tempos, e foi sempre crescendo, evoluindo e modernizando-se em termos urbanísticos, residenciais, de educação, cultura, saúde, industriais, laborais, produção de riqueza, crescimento da população e é hoje uma cidade com uma elevada qualidade de vida, pleno emprego, onde há presente e futuros, sonhos e esperanças para os todos os Mangualdenses.
Nada de maior e melhor se pode dizer acerca duma cidade ou dum País do que:-
“Aqui há presente e futuro, esperanças e sonhos assegurados para todas as gerações, actuais e futuras”. E em Mangualde há.
José Luiz da Costa Sousa
Um Mangualdense…
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