Mangualde, uma perspectiva diferente

Mangualde de ontem, tal como hoje, foi sempre terra de muitos empresários de grande sucesso, iniciativa, competência, inteligência, coragem, geradores de emprego e riqueza, para todo o Município e munícipes.

Falar, em termos breves e simples, de algumas, embora muito poucas, dessas actividades económicas já passadas e dos seus empreendedores, é apenas um recordar singelo e pessoal, despretensioso, sem a mínima intenção de fazer jus ao valor de excepção desses grandes Mangualdenses que, embora tendo já partido, na sua maioria, são memórias muito presentes, saudosas e queridas de todos nós, sobretudo dos mais antigos.

Eu vivi e cresci ali na antiga Quinta de S. Cosmado, hoje Bairro de S. João, a uns dois centos de metros da antiga Serração de Madeiras do Snr Duarte Carvalho, figura altiva, diligente, enérgica e séria, plena de autoridade, inseparável do seu Citroen DS21/ Boca de Sapo, e que foi um extraordinário e muito bem sucedido industrial de madeiras de pinho, quase só para exportação.

O inesquecível “Comandante em Chefe” da força trabalhadora da Serração Duarte Carvalho, no terreno, era o seu sobrinho, o Snr Alberto, o “Betinho”, como o vulgo com carinho e respeito o tratava, era pois o omnipresente e omnipotente supervisor da fábrica e de todos os seus trabalhos, prestigiada figura de todos conhecida em Mangualde, senhor dum formidável desempenho funcional e duma voz tonitruante, que se ouvia muita para além dos fins e confins da fábrica e que, usando e abusando do mais bombástico vernáculo popular conhecido e até desconhecido, mantinha a centena ou mais de rudes e agrestes trabalhadores sempre activos e produtivos, em eficaz e atempado cumprimento de todas as tarefas que lhes competiam e não competiam e mais que houvesse, sempre e quando necessário, madrugada bem madrugadora ou noite dentro; os trabalhadores endeusavam-no, era uma força da natureza.

Da minha casa, dava-me gosto ficar a ouvi-lo e a vê-lo, ali mesmo daquele meu longe bem perto, a esbracejar e vociferar ordens, contra ordens, reprimendas, cobras e lagartos sem cessar, o mando estava-lhe na genética, era um vero e fero Capitão dos seus homens, tratados com firmeza, saber, oportunidade e fraternidade; era ele sem dúvida a alma, o “animus” da empresa no terreno, o garante dos seus postos de trabalho e do seu pão…

… o Snr Duarte Carvalho era mais o cérebro industrial, o grande empresário, o estratega, o planeador e o Snr Alberto o CEO, como hoje se diz, o chefe executivo, até que um dia deixou de o ser, por falecimento do tio e aí, o forte Capitão sem sucessor à altura, implicou que a fábrica pouco mais sobreviveu e silenciou-se para sempre.

Tinha esta fábrica também um moinho onde as gentes simples de Mangualde e arredores iam moer o seu milho, para o cozer do pão nosso de cada dia, as boroas, onde eu e a minha mãe íamos, quinzenalmente, moer também  a nossa saca de milho…

… ali chegados, ficava-me, garoto ainda, embasbacado e encantado, a assistir ao ritual da moagem, olhando a portentosa e ruidosa máquina a vapor, coração da fábrica, e a sua insaciável fornalha, alimentada com aparas de madeira, esfumegando-se por todo o lado, expelindo excessos de vapores e debitando centos de “cavalos força”, cavalgando longas e largas correias de cabedal sem fins, que davam vida a toda a maquinaria da fábrica e também ao moinho, lado a lado com esta…

… e, estático eu, mirava, fixamente, as mós de granito a rodarem sem cessar, uma sobre a outra, no moer da farinha, esmagando os grãos de milho caídos gradualmente, por gravidade, duma afunilada caixa de madeira, onde o moleiro ia despejando as sacas cheias, depois, bem empoados a branco farinha que andava no ar, eu e mãe, de saca de farinha à cabeça,  regressávamos a casa…

….no dia seguinte, cozia-se o pão, tínhamos forno próprio, era um dia de intensos trabalhos, o cortar das ramas dos pinheiros a que eu subia ligeiro, e que depois levava arrastadas caminhos fora para o forno, era sempre a minha avó a aquecê-lo com as ramas, enquanto em casa, na masseira da cozinha, mangas arregaçadas, de poderosos e experientes braços, a minha mãe peneirava a farinha, depois amassava-a com severa energia, punha-a a levedar amontoada numa parte da masseira mas, antes, fazia-lhe sempre uma ou mais cruzes e benzia-a, esperava um certo tempo, abria a masseira e moldava as boroas da fresca massa já levedada, uma a uma, colocava-as num grande tabuleiro de madeira, que depois levava à cabeça para o forno já aquecido, e logo se metiam as boroas, umas vinte, com uma pá de cabo comprido, lá bem para dentro e mais uma bôla, um pão espalmado, com umas poucas sardinhitas ou rodelas de chouriço, fechava-se a porta de ferro do forno até completa cozedura do pão e depois, era uma festa, o dia culminava com o tirar do pão e o comer da bôla, partilhada com os vizinhos que aparecessem, mais uns copitos de tinto a meias com umas coscuvilhices da aldeia; quinze dias depois, tudo se repetia.

Tinha ainda esta fábrica um notável “Apito”, accionado com o  vapor daquela fabulosa máquina faz tudo, de poderoso som grave e familiar, como o dos velhos vapores ou combóios, que se ouvia em toda a vila de Mangualde e muito para além dela, cresci ouvindo-o todos os dias, marcando o ritmo das vidas até lá nos longes do concelho, apitando sempre nos inícios e fins do trabalho e do almoço, era o relógio de todos nós, aldeias e campos fora, nunca falhava, nós só perguntávamos:- “a máquina já apitou?!, como quem pergunta que horas são, sim ou não, e sabíamos as horas.

Esta fábrica de serração de madeiras de pinho e mais uma outra à saída de Mangualde para Nelas, a do Snr Alberto Gaspar da Figueira da Foz, empregavam centenas de trabalhadores e foram ambas fontes de grande riqueza do município e dos munícipes.

Depois vieram os incêndios, os pinheiros foram extintos e substituídos massivamente por eucaliptos, acabou-se a matéria prima, faliram.

Nos terrenos da antiga fábrica do Snr Alberto Gaspar, há já uma nova fábrica a laborar e está em construção uma outra, que será a relocalização duma das mais antigas e bem sucedidas fábricas de Mangualde, a Empresa Ernesto Matias, de ferramentas diversas para agricultura, construção civil, e não só.

O espaço onde se situava a Serração Duarte Carvalho está ainda vazio, mas, em contrapartida, a nova e vasta área Industrial de Mangualde é hoje vida, riqueza, honra e vaidade de Mangualde, pelas inúmeras e diversificadas actividades económicas e fábricas de sucesso, que ali foram sendo criadas, graças à acção dos excepcionalmente activos, corajosos e imaginativos empreendedores mangualdenses e aos apoios vários das óptimas gestões autárquicas, que têm servido de forma exemplar e única, os interesses dos seus munícipes, e das quais todos nos orgulhamos e muito, pois têm garantido trabalho, presente e futuro à maioria dos residentes no Concelho.

Nesses tempos dos anos cinquenta e sessenta, Mangualde viu nascer uma outra iniciativa industrial extraordinária, a então mui moderna fábrica da “EMBEL – Electromecânica das Beiras, Lda.”, deslocalizada das proximidades da estação ferroviária, para um terreno onde hoje está já instalada parte da PSA/Citroen/Peugeot (esta é hoje a maior empregadora do concelho), e cujo proprietário, da Embel, era o Snr Eng.º José Coelho dos Santos, empreendedor extremamente dinâmico, inteligente, senhor de diversas e originais iniciativas, que fez prosperar a EMBEL e também Mangualde, dando trabalho a muitas centenas de trabalhadores.

O invulgar e muito inventivo Industrial, o Snr Eng.º José Coelho dos Santos, criou ainda outras empresas como a SAVA, que montou o primeiro carro em Portugal, e a INTERBLOC, que fabricava blocos muito especiais para construção, os chamados “Legos da Construção Civil”; recebeu variadíssimas medalhas e menções de Honra nos Salões Internacionais de Inventores e foi agraciado com a Medalha de Ouro da Cidade de Mangualde, em 1997, entregue pelo então Ministro da Cultura, Manuel Carrilho, na presença do Presidente da Câmara de Mangualde.

A EMBEL extraía estanho do minério de cassiterite, ou seja, produzia estanho; curiosamente, numas férias grandes dos meus estudos, tinha eu 11 anitos, trabalhei lá nos laboratórios três meses, onde estava empregado o meu inestimável amigo da escola primária, o Azevedo, de Santa Luzia e mais um engenheiro espanhol, chefe do laboratório; foi para  mim uma experiência notável, que para sempre guardo como memória preciosa.

O tempo e os seus imponderáveis levaram esta fábrica nos turbilhões e convulsões das vidas e das economias; em Mangualde já não se separa ou produz mais o estanho, desde há muito, outras produções chegaram e estão aí, é a inevitabilidade da roda da vida.

Lá para o centro de Mangualde, encontrávamos os armazéns de lanifícios do Senhor Adelino Amaral, o maior e mais prestigiado armazenista de lanifícios do distrito, quiçá de Portugal, trabalhavam lá dezenas de contemporâneos e amigos meus, como o inesquecível Fernando do Lino, mais tarde digno industrial de Mangualde, que Deus tenha em paz.

Dava gosto espreitar lá para dentro do armazém, ver um nunca acabar de monumentais prateleiras e mais prateleiras, do chão ao tecto, abarrotadas de rolos enormes de tecidos de qualidade, de todas as cores, padrões e materiais, e um balcão corrido de madeira, imenso, a todo o comprimento do armazém, ao longo do qual se distribuíam clientes e empregados de balcão, estes muito expeditos e disponíveis, de sorriso pronto, tirando e recolocando os enormes rolos nas prateleiras, seguindo os pedidos dos clientes e em busca das melhores opções, encontrada a peça pretendida, toca de a desenrolar no balcão com mestria surpreendente, quantos metros quer, é para umas calças, saia, fato, casaco (?), bem, são tantos metros, saía logo o metro de madeira debaixo do balcão, em menos de nada avançava a tesoura, separava-se o corte, rolo para a prateleira, embrulhava-se no tradicional papel castanho, pagava-se e avançava outro cliente.

O armazém fervilhava sempre de actividade. A simpatia e eficiência dos empregados de balcão destes armazéns, eram parte do seu prestígio, para além da qualidade dos tecidos.

Naquele tempo a indústria têxtil, a par de algumas outras, eram um dos ex libris da riqueza nacional, aproveitando a lã dos numerosos rebanhos ovinos da Beira Alta e os algodões vindos do Ultramar, a Covilhã transformou-se no maior centro fabril de têxteis de Portugal, de tão elevada qualidade, que até os ingleses os importavam, marcavam-nos com etiquetas deles e exportavam-nos como sendo de fabrico inglês mas, prioritariamente, abastecia todo o espaço português, continental e ultramarino.

Mangualde foi, a nível nacional, o maior entreposto armazenista e distribuidor dos tecidos produzidos na Covilhã e arredores, havendo ainda outros armazéns para além destes do Snr Adelino Amaral, tais como o do Snr Augusto Gomes, o dos Snr Beja e Correia, etc… foi a principal actividade económica de Mangualde, em todos os aspectos, emprego, riqueza produzida e prestígio, nos seus tempos áureos.

Estes armazéns dispunham dos seus próprios especialistas em marketing/ vendas, idos de porta a porta dos clientes e revendedores, os célebres caixeiros viajantes, pessoas de qualidades muito especiais, em particular a empatia, o dom da palavra, bem apessoados e apresentados, conhecedores profundos do negócio dos tecidos, corriam o País de lés a lés em viatura, com amostras de todos os tecidos disponíveis, cada um para a sua área, para contactarem os já de facto e os potenciais clientes para apresentação e venda dos lanifícios, traziam as encomendas, que logo eram aprontadas e expedidas para todo o Portugal pelos CTT, via combóio, que nesses tempos chegava a todos os lugarejos do país; alguns desses Senhores prezá-los-ei sempre como amigos que eram e são, como o meu amigo Afonso de S. Cosmado, o Victor do Leandro e muitos outros.

Havia ainda muitos outros notáveis empreendimentos fabris e comerciais no centro de Mangualde…

Ali, mesmo em frente do Cine Teatro de Mangualde, mais propriamente da Clínica do Snr Dr. Dino Furtado, num grande edifício, laborou anos e anos a fábrica de malhas “Malhacila”, uma empresa notável, que produzia todo o tipo de produtos acabados em malhas várias, de elevada qualidade e grande procura.

Foi uma das empresas mais conhecidas e credenciadas na área das malhas a nível nacional e internacional; deslocalizou-se mais tarde para um edifício muito moderno, no bairro anexo à Igreja Matriz, construído de raiz para o efeito, equipado com maquinarias e tecnologias de ponta, e com a maior parte da produção a ser escoada Europa fora e não só; vários familiares meus trabalharam lá, assim como o meu inesquecível amigo de sempre, o Zé Pintinhas, a quem, quando eu tinha 17 anos encomendei uma camisola, um polo amarelo de gola castanha, que ainda hoje preservo, como relíquia.

A fábrica Malhacila foi um dos empreendimento icónicos de Mangualde, obra invulgar de um verdadeiro Senhor da Indústria, o Snr José António dos Santos e de toda a sua digníssima Família, e que foi prestígio, emprego, pão e vida para centenas ou milhares de Mangualdenses, ao longo de toda a vida da Fábrica.

Mas os imponderáveis das políticas globalistas que nos transcendem, desenhadas pelos grandes senhores do mundo, numa perspectiva de bem fazeres que acabam sempre em mal fazeres e piores haveres, chegaram um dia e consigo trouxeram “os sonhos e ilusões” da União Europeia, em que todos acreditámos e acreditamos, inocentemente, pois corporizaram-se sempre e assim continuam, em dádivas e empréstimos de biliões de euros, produzidos com clicks de ratos, ou sem ratos, nos  computadores do BCE, e distribuídos hoje à “bazzokada”, ontem a  rodos e a fundos perdidos e achados e muitos outros ainda em títulos de dívida pública, para modernização, inovação, melhoria de competitividades e outras habilidades de tudo e mais alguma coisa, para a indústria, pescas, agricultura, comércio, educação, ciências, turismo, formação profissional, etc…

…e todas essas nossas actividades foram inundadas com os cujos biliões… mas impuseram-nos fronteiras abertas, livre circulação de tudo, pessoas, capitais e mercadorias, sem taxas alfandegárias, fizeram ainda muitas outras exigências, como os célebres e rigorosos standards europeus, para se exportar o que quer que fosse, que implicaram entrar em concorrência livre e sem rede, lado a lado, de igual para imensamente desiguais super potências económico financeiras e industriais do mundo inteiro e da UE, China, Alemanha, Itália, Inglaterra, Espanha, EUA. etc…

… tudo isso em nome da glorificada globalização ainda hoje em marcha, incensada deusa da felicidade eterna de todos os povos deste e outros mundos a globalizar também, mas que se traduziu, na prática, no fim previsível, óbvio, inevitável e pré planeado da maioria ou de muitas pequenas, médias e grandes empresa das mais diversas actividades económicas dos países mais pequenos e vulneráveis, como Portugal, transformados estes em David´s sem fisgas, contra Golias armados até aos dentes…

… e, nesse novo contexto económico unioeuropeu e global, para o qual a União Europeu nos arrastou, as nossas agriculturas, pescas e indústrias, etc… sofreram muito e deixaram de ter hipóteses sérias de competitividade, passaram a sobreviver de subsídios, fundos perdidos, empréstimos a juros favoráveis… algumas sobreviveram, mas muitas foram-se fechando e ou reduzindo a sua produção, em particular na área dos têxteis, a Ásia coloca aí tudo 5 a 10 vezes mais barato, em contrapartida da importação por essa mesma Ásia dos carros alemães e não só… ganharam os grandes e mais fortes e perdem sempre os pequenos e mais fracos, simples darwinismo económico.

Um outro empreendimento muito antigo e absolutamente notável, ainda sobrevivo e bem, é a Fábrica de Camisas e Blusas Sagres, de nomeada nacional e internacional, onde laboraram gerações e gerações de centenas, mesmo milhares de trabalhadoras/es ao longo de toda a existência de quase um século desta Fábrica de excepção, que fabricou e continua a fabricar camisas e blusas de invulgar e reconhecida qualidade, exclusivamente para exportação, e que tem tido o saber de navegar com sucesso através das procelas e dificuldades dos tempos que Portugal tem atravessado e ela lá está, bem sólida, na estrada de saída de Mangualde para Penalva do Castelo, a trabalhar e produzir.

Mangualde e os Mangualdenses têm uma dívida de gratidão, para com esta e todas as outras empresas do passado, sendo esta ainda presente e amanhã, mas todas elas foram e outras ainda são, riqueza, pão e postos de trabalho para o Concelho.

A Camisaria Sagres teve e ainda tem para mim um significado particular e pessoal, coisa  do meu imaginário adolescente, trabalhava lá uma menina, encanto e amor platónico meu, anos seguidos, morena, elegante, linda, de fogosos e negros olhos, e negros eram também os longos cabelos, penteados num gracioso rabo de cavalo…. quase todos os dias, eu ia assistir à saída da fábrica, ficava-me ali discreto, olhando a mais duma centena de meninas que, em alegrias descuidadas, floridas em esplendorosas juventudes e graças primaveris, desfilavam hinos de encantos femininos ruas fora, e entre elas aquela que foi devaneio meu, e assim ficou, nunca nos falámos, o destino apartou-me para outros mundos mas, lá bem no fundo de mim, ainda lá está, como memória inestimável, nunca realizada.

Lá ao sair da cidade para o Modorno, ainda de pé, estão as instalações (hoje dedicadas a outras actividades) daquela que foi a maior e mais capaz Oficina de Mecânica que conheci em vida e que era, paralelamente, estação de serviço e o maior lagar de azeite do Concelho, propriedade do Snr António Venâncio.

Este Senhor foi o maior empresário de mecânica, de reconhecido e merecido sucesso, no Concelho de Azurara da Beira e penso que do Distrito de Viseu, sendo também invulgar mecânico de competências únicas, tendo inventado um processo de substituição de gasolinas e gasóleos, em falta no decurso da 2ª GM, por uma fonte alternativa de energia, o gasogénio, produzido a carvão ou lenha, que teve muito sucesso e foi aplicado na sua oficina em muitas viaturas, pesadas e ligeiras, pelo que terá sido oficialmente comendado, a nível nacional.

O Snr Venâncio  e digníssima Família construíram a pulso de muito e exaustivo trabalho, saber, investimento inteligente, exigente e dura gestão de trabalhadores e trabalhos, este empreendimento, que foi a vida de centenas de trabalhadores em permanência, durante quase um século … ali trabalhou o meu pai, como mecânico, torneiro, condutor de viaturas pesadas, desde sempre, até que a morte o levou ainda muito novo, e mais  um irmão meu… e, eu próprio, numas férias grandes, no escritório, fazia as folhas dos salários, semanais, tratava dos correios, tinha doze anos feitos; foi uma lição de vida.

O lagar de azeite do Snr Venâncio era um lugar espantoso, quando entrava em funcionamento na altura da azeitona,  imenso nas dimensões e no aspecto invulgar das suas maquinarias, desde o despejar das sacas das azeitonas nos tanques iniciais, de onde partiam levadas por um sem fim ascendente, que as fazia passar por filtros das folhas e lavagens, depois pelas algas onde eram moídas, daí o mosto seguia para duas prensas enormes, onde era espremido para uma centrifugadora que, finalmente, separava o azeite puro duma zorra negra, esta sem qualquer utilidade.

Todos os anos, eu e a minha avó, íamos fazer o azeite que tínhamos, o bastante para a família e para o ano inteiro, no dia e na hora prevista lá estávamos nós no lagar, onde o cheiro intenso a azeite novo nos envolvia, era gostoso e diferente, e ali aguardávamos, pacientemente, a entrada das nossas sacas no circuito de fabrico do azeite; levávamos sempre um pão de segunda, que comíamos ensopado no nosso azeite quentinho à saída do lagar, mais qualquer coisa, era a tradição, momentos especiais e inesquecíveis, feitos de pequenos nadas, como estes simples pedaços de pão molhados em azeite, mas que nos compensavam dos trabalhos da vareja e apanha da azeitona, do frio e dores nas unhas geladas nessa apanha e que são lindas recordações.

Penso que já não se produz ali azeite, nem se fazem quaisquer mecânicas, perduram apenas as memórias dum passado de glória, que não resistiu aos novos tempos.

Mangualde foi, é e continuará a ser um grande centro industrial e não só, talvez o maior de todo o distrito, logo a seguir a Viseu; é uma cidade que é honra e orgulho de todos os seus residentes, e que de todos tem sabido cuidar melhor que nenhuma outra, pela mão dos seus grandes empresários e gestores autárquicos.

Obrigado, Mangualde, por seres a cidade que és e a grande Vila que fostes.

José Luiz da Costa e Sousa

Curriculum

Natural de Mangualde

Habilitações Literárias:-  Academia Militar de 1965 a 1969

Carreira militar

De 69 a 84, integrou as Tropas Paraquedistas, até ao posto de Tenente Coronel. 

Cumpriu 5 anos em várias comissões na guerra do Ultramar, Angola e Moçambique, de Alferes a  Capitão.

Condecorado com:- 1 Cruz de Guerra de 2ª classe, 1 medalha de Serviços Distintos de Ouro com Palma, 1 medalha de Serviços Distintos de Segurança Pública da PSP, etc… Prémio Governador Geral de Angola, Prémio Heróis de Portugal, Prémio Almirante Américo Tomás,  etc… por feitos em combate e várias medalhas comemorativas.

Carreira na PSP 

De 1984 a 2002, integrou-se nos quadros permanentes da PSP no posto de Tenente Coronel, até ao posto de Superintendente, tendo sido graduado em Superintendente Chefe no desempenho de funções na polícia da ONU em Timor Leste.

Funções na PSP, em Portugal

Comandante Distrital da PSP Viseu, Director do Serviço de Informática da PSP,  Director de Ensino da Escolas Prática e Superior da PSP, Comandante Distrital da PSP no Algarve.

Assessor Principal para a Segurança do Exmo. Snr Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio

Funções na ONU

Integrou várias Missões da ONU, Jugoslávia e Timor, tendo  desempenhado as seguintes funções:-

Comissário ou Comandante Geral da Polícia Internacional da ONU em Timor na UNTAET (2000 e 2001)

Chefe de Estado Maior da Polícia Internacional da ONU na Jugoslávia ( 93 e 94)

Comandante de várias Regiões e Sectores da Polícia da ONU, no decurso da guerra da Jugoslávia.

Agraciado com várias Medalhas da ONU

Funções na União Europeia

Oficial de Ligação da Missão da extinta UEO na Bósnia com a Presidência Portuguesa da UEO, em Bruxelas.

Assessor Sénior e Chefe da Segurança da Polícia da União Europeia na Bósnia de 2003 a 2012

Agraciado com várias Medalhas da União Europeia.