Para além do sempre revivido e profundo significado da Paixão e Ressurreição de Cristo, recordo com saudade as mais tradicionais, mais populares e mais festejadas celebrações dos Ramos e Páscoas de outros tempos.

Era então o Domingo de Ramos e o da Páscoa, tempo de fé e festa em Mangualde, a minha terra, por essas aldeias fora e, também ali na Quinta de S. Cosmado, onde vivi e cresci.

Dias antes, mobilizavam-se em entusiasmos sempre renovados, os rapazes lá do sítio, os Nunes, os filhos do “Ti Lúcio”, os “Matanças”, os Barrosos, o “Gem”, etc… e era vê-los incansáveis, em azáfamas várias e muitas, no imaginar e fazer dos mais belos e adornados ramos, que me foi dado ver até hoje…

… feitos de pernadas de loureiros, cortadas aqui e ali, por vezes já floridas, enformadas depois como ramos em arcos, andores, simples e até duplos, consideráveis na dimensão e no peso, alegrados e coloridos a alecrins, laranjas, doçuras, celofanes, etc… eram grandes, quase majestosos embora aldeões, mas lindos !

Chegado o Domingo de Ramos, acordada a aldeia no estridente e familiar cantar dos galos, mergulhava esta de imediato, num frenesim feito de últimos e apressados preparativos para a missa e para a procissão dos Ramos.

Bem antes da missa, adomingados já os rapazes nos seus humildes vestires, lavados e passados a ferro, orgulhosos da obra feita e exibida na travessia triunfal do povoado, era vê-los passar a todos a caminho da Igreja Matriz, seguidos das gentes da terra quase em peso, não abdicando estas de fazerem também sua, a humana e simples vaidade de serem seus, os maiores e mais admirados ramos da procissão em torno da Igreja, que à missa se seguia e na qual, me ficavam extasiados olhares, hoje memórias de imagens irrepetíveis e inesquecíveis, pois já nada é como foi!

A Páscoa era tempo também de alindar as aldeias para receber Cristo, que a elas então descia, ressuscitado e de novas esperanças e novos sonhos vestido.

As casas eram lavadas, caiadas mesmo, varridas as ruas de terra batida e, em dia de visita Pascal, Domingo, Segunda-feira ou Pascoela, os caminhos eram tapetes de mil e um aromas e cores, feitos de giestas brancas e amarelas em flor, de pétalas de camélias, alecrins, glicínias, lilases, etc …

Estalavam rijos os foguetes à entrada da aldeia, anunciando a chegada do Padre que, em cortejo, campainhas soando aleluias e mais aleluias, levava Cristo e a bênção de casa em casa onde, devotas, as famílias O aguardavam, ansiosamente, pois era o Dia Grande do Ano, aquele em que Cristo, em pessoa, visitava cada um em sua casa !

Entrava primeiro o Padre aspergindo bênçãos em água benta sobre as famílias e a casa, e logo a seguir Cristo chegava, simples e humilde, ao colo do Sacristão e de braços amplamente abertos a todos nas famílias, sem curar se eram ricas ou pobres, pecadoras ou não e no seu crucifixo pregado… do qual, havia já ressuscitado.

As famílias visitadas, de corações e almas ao alto… alguns de olhos marejados de lágrimas… ajoelhavam na Fé e na Crença em Cristo, que ali os visitava nas suas casas, apenas para os abençoar e a cada um beijar.

Páscoa era ainda folares, amêndoas e esperanças renovadas num futuro melhor, girando tudo em torno da crença simples dum povo em Cristo, nessa altura, eminentemente rural; hoje, tudo mudou…

Nessas Páscoas passadas, a esperança e a fé viviam e transcendiam, simples embora, dos rituais religiosos e quase lúdicos, que envolviam e agarravam o povo, fosse na feitura e festa dos ramos, nos sermões e procissões dos dias santos, na visita à madrinha e sua bênção, nos folares, foguetes ou, nas amêndoas recebidas e ofertadas, ou ainda, no vestir de lavado e de flores as camponesas aldeias…

Hoje, o crescimento urbano e a diminuição das vocações para o sacerdócio, já não permitem que Cristo visite cada um em sua casa e, os ramos, esses, são miniaturas dos passados, por razões ambientais ou outras, assumindo tudo um ar menos celebrado, e mais ausente de Cristo !

Os tempos que vão correndo estão a ser e vão ser muito difíceis para todos os que, por esse mundo fora, crêem em Cristo; políticas internacionais, que nos ultrapassam, estão a proibir e criminalizar já a presença de Cristo em espaços públicos (Europa fora) … estão a proibi-lo de andar na rua, penalizando até quem o acompanhe, como tal, o futuro de todos os que Nele acreditam, terá cada vez menos Cristo !

Entre os Cristãos no mundo, há hoje milhões deles que nada têm de seu, sejam haveres, afectos ou sonhos, nada de nada, excepto a Fé e a Crença em Cristo (África e Médio Oriente) !

Outros, milhões também, foram e estão a ser assassinados, todos os dias, (na África, Médio Oriente e Filipinas), apenas por serem Cristãos e nada e ninguém vai em seu socorro.

Esses Cristãos vivem e morrem apenas e só de e pela sua Fé em Cristo, como tal, não há crime maior do que lhes proibirem ou assassinarem a Crença e a Fé, ou ausentá-los de Cristo, proibindo Este nas escolas, ruas, etc.. !

Ainda assim temos aí, mesmo á porta, a Páscoa em toda a sua plenitude.

Que esta Páscoa traga “esperança ressuscitada” ao coração de todos os que já a perderam, vítimas dos novos tempos e, que esta se transforme em Paz, Pão e Amor para o Mundo em geral e, para os portugueses em particular.

Uma Páscoa Feliz para todos.

Jose Luiz Costa Sousa