Num momento em que se aguardam grandes decisões por parte da Associação de Futebol de Viseu relativamente aos moldes em que será encerrada a época desportiva 2020/2021, fomos ouvir o presidente da direção do Grupo Desportivo de Mangualde Ricardo Lopes.

  • Qual a expetativa do G.D.M relativamente à decisão da AFV?

Depois da reunião da passada 3ª feira, onde a maioria dos clubes votou um modelo competitivo dos quatro apresentados pela direção da AFV, a decisão está encontrada. Se a direção da AFV for coerente com os seus princípios, aceitará o voto da maioria, como fez em agosto passado. Caso o Governo permita o levantamento das restrições até ao início de abril, será retomado o campeonato de forma facultativa, sendo criada uma série com os seis primeiros classificados (encontrados por coeficiente de pontos) onde o vencedor será indicado ao Campeonato de Portugal. Paralelamente será criada uma ou duas séries para as restantes equipas que pretendam retomar a competição. Os clubes que não pretendam retomar esta época, não sofrerão qualquer penalização desportiva. Foi isto que os clubes votaram por uma larga maioria. Tudo que seja decidido contra isto, será incoerente, irresponsável e antidemocrático. Os vários modelos para terminar a competição foram apresentados de forma clara, com implicação dos prós e dos contras. Nada foi escondido por parte do gabinete técnico da AFV. Naturalmente que cada clube escolheu o modelo em função dos interesses do clube que representa. Ao contrário daquilo que alguns arautos da verdade têm transmitido, não vejo qualquer maleficio nessa escolha. Foi para isso que cada um de nós foi eleito, para defender e zelar pelos interesses do seu clube. Cabe agora à AFV, zelar pelo interesse de todos. E não havendo unanimidade, deverá respeitar o voto da maioria.

  • Optando a AFV por seguir este modelo, qual será a posição do Grupo Desportivo de Mangualde? Regressará à competição?

Tal como transmiti à direção da AFV, antes de falarmos do regresso à competição devemos avaliar em que condições se dará esse regresso. A forma como decorreu a competição de setembro a dezembro foi dramática a todos os níveis. Tivemos um prejuízo financeiro enorme, fruto da atual contração de alguns patrocinadores e dos jogos à porta fechada. Em termos de saúde pública foi uma roleta russa. Circular pelo distrito, competir sem testes à Covid-19, fazer refeições dentro de balneários e autocarros devido à alteração nos horários dos jogos. Hoje, quando ouvimos falar no regresso à escola ou ao trabalho, ouvimos falar num conjunto de regras que o suportam. Para o futebol distrital não está prevista a implementação de qualquer regra sanitária para além das existentes, não existirá redução do custo da competição e os apoios financeiros da FPF estão muito longe do idealizado pelos clubes. Por isso, posso desde já garantir aos Sócios e Simpatizantes do GDM que, mesmo que a AFV imponha a retoma obrigatória do campeonato, a direção do GDM jamais colocará em causa a sustentabilidade financeira do clube e a saúde dos seus atletas e demais agentes desportivos em risco. Estamos cientes do risco desportivo que corremos, mas é fundamental, num momento em que já se sente uma enorme retração económica, agir com frieza e responsabilidade, sobrepondo a razão à emoção.

  •  A época começou de forma conturbada, com alguns clubes, incluindo o GDM, a oporem-se às decisões da AFV e arrisca-se a terminar da mesma forma. O atual presidente da AFV foi capitão do GDM e seu colega de balneário. Conhecendo bem José Carlos Lopes o que acha que está a falhar na liderança da AFV para existir tanto ruído e pouco consenso nas decisões?

Esta direção da AFV, que o GDM apoiou e ajudou a eleger, entrou em funções num ano difícil, de grande incerteza a todos os níveis. E planear na incerteza nunca é tarefa fácil. O problema da AFV não está no Prof. José Carlos, homem que conheço bem e ao qual reconheço imensas qualidades humanas e profissionais. O problema da AFV é ter ficado órfã de dois homens do futebol, dois elementos preponderantes no crescimento e credibilização do futebol distrital, o Dr. José Alberto Ferreira e o Nélson Morais. Felizmente e apesar da saída do prof. Victor Pinto, o gabinete técnico tem mantido a enorme capacidade de trabalho e competência com a liderança do Bruno Martins. Julgo que, para além da experiência, que só se adquire com o tempo, tem faltado aos novos membros da direção da AFV capacidade para o desempenho do seu papel institucional e humildade para saber ouvir outras opiniões ou propostas e não as encararem como afrontas pessoais. Acha normal o vice presidente Paulo Fraga questionar numa reunião de clubes, a forma como os clubes comunicam nas suas plataformas digitais, ameaçando com processos disciplinares? Acha normal o vice presidente Pedro Almeida, na sequência de uma entrevista ao Jornal do Centro, onde me limitei a transmitir o ocorrido na reunião de 3ª feira, insinuar que menti em 75% dessas declarações, levando de forma leviana para a brincadeira um assunto tão sério como o que estivemos a debater? Felizmente o presidente da AFV e outros clubes corroboraram no mesmo dia com tudo aquilo que referi. Estes são apenas alguns episódios, mas existem outros que por uma questão de respeito pelos intervenientes prefiro nem divulgar. A isto chamo impreparação para o desempenho dessas funções.

  • Sabendo-se que o futebol é um desporto de massas, como tem o Grupo Desportivo de Mangualde lidado com o afastamento dos seus atletas, sócios e adeptos?

O Grupo Desportivo de Mangualde não parou. Não pode parar. Temos consciência do enorme papel desportivo, educacional e social que ocupamos na comunidade mangualdense. Sem termos recebido ainda qualquer tipo de apoio do Governo ou da FPF, temos contado com o apoio da Câmara Municipal para manter em atividade mais de uma centena de atletas que anseiam pelo regresso dos treinos e da competição. Os nossos coordenadores da formação João Paulo e Ruben Marques, assim como o administrativo Joel e um vasto leque de técnicos, têm sido incansáveis na planificação e envio dos exercícios de treino para os atletas, de forma a atenuar os efeitos do confinamento. Temos realizado semanalmente reuniões online de acompanhamento com todos os escalões. Tentamos continuar ligados aos nossos atletas, sentindo as suas mágoas e angustias e trabalhando para as atenuar. Paralelamente a isto, continuamos a trabalhar no processo de certificação do clube junto da FPF, ferramenta indispensável no futuro. Fruto da suspensão das competições, conseguimos reformular o orçamento do clube, aproximando-nos mais rapidamente do que sempre idealizámos para este clube em termos financeiros. Dotámos a área da comunicação de conhecimento e profissionalismo. Dedicámos mais tempo à área de associados, com a substituição do cartão de sócio, dando-lhe um imagem moderna e funcional. O Grupo Desportivo de Mangualde é e será sempre um projeto inacabado.